Porto Alegre(RS): mais de 30 anos longe da escola, taxista aprende inglês para a Copa
Ouvir histórias de seus passageiros é o que o taxista Rui Teixeira mais gosta em seu trabalho, mas quando o cliente é estrangeiro fica difícil até mesmo saber aonde ele quer ir. Rui já precisou contar com a ajuda de sua sobrinha de 10 anos para rodar por Porto Alegre (RS) com um americano. O pensamento que já é folclore nas redes sociais foi inevitável. “Imagina como vai ser na Copa”, dizia para si mesmo, até que entrou para um curso de inglês preparatório para o evento, em uma turma só de taxistas.
Em uma sala improvisada, na Cooperativa dos Taxistas do Aeroporto Salgado Filho (Cootaero), Rui tem aulas de inglês todas terças e quintas-feiras. Trinta e cinco anos longe dos estudos, ele teve seu primeiro contato com a língua agora. Aos 58 anos, está aprendendo a perguntar o destino do passageiro, lições básicas que empolgam o gaúcho. “Espero conseguir montar uma frase inteira e fazer a tradução automática, sem precisar parar para pensar”, diz.
Gratuito, o curso começou em 20 de abril, tem 160 horas e é promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem e Transporte (Senat), por meio da Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Oito turmas de taxistas e seis de guardas municipais estão tendo aulas de inglês em Porto Alegre. Até o final de 2013, o programa pretende formar 600 profissionais, incluindo também policiais militares.
Professora do curso para taxistas, Gabriela Müller explica que os conteúdos das aulas são planejados especialmente para o dia a dia dos profissionais. Cada unidade do livro didático é baseada em um ponto turístico de Porto Alegre, e a partir deles os alunos aprendem a soletrar o nome das ruas, descrever caminhos e identificar as cores dos times de futebol. Todo o material é traduzido para o português e é baseado mais em conversação do que em gramática. Por meio de um método chamado de communicative approach (aproximação comunicativa, em tradução livre), antes de passar o conteúdo da aula, a professora explica aos alunos em que situações ele poderá ser usado. “Trazemos a matéria para o mundo real deles”, diz Gabriela.
Taxista há 10 anos, Andréia Machado chega cansada às aulas no final do dia, mas diz que, ao menos neste início, a empolgação supera a fadiga. Durante um ano, ela já tinha estudado inglês em uma escola particular, mas diz que os conteúdos vistos agora são novos. “Eu quero aprender a perguntar o nome do passageiro, de onde ele veio e a passar meu contato para o cliente”, conta.