Capital: taxista oferece salva de palmas e “milhagem”
Antes daquela perguntinha básica, “Tá indo para onde?”, João Batista Santos, 49, estampa um sorrisão no rosto e engata o seguinte: “Você já foi aplaudido hoje?”. Não dá tempo de responder. Enquanto você estiver tentando descobrir que raios significa aquilo tudo, ele já estará apertando o botão do toca-CDs, e uma salva de palmas tomará conta do táxi, um Scénic branco, frigomóvel com bebidas entre o passageiro e o condutor.
O trecho das palmas foi editado de um CD ao vivo do cantor Renato Vargas. Quem? “É um cara que ficou famoso com som de barzinho”, afirma. E de onde você tirou essa ideia de aplaudir a clientela, João? “Um senhor que levei ao aeroporto me contou que uma companhia aérea estendia tapete vermelho para os clientes e o próprio presidente da empresa cumprimentava os passageiros”, lembra, referindo-se ao comandante Rolim Amaro, que, como presidente da TAM, fez esse trabalho de recepção nos anos 1990 –ele morreu em 2001.
Só que desenrolar um tapete vermelho para cada braço estendido pelas ruas de São Paulo daria muito trabalho. “Não ia funcionar. Então, coloquei a gravação. De cara, ganhei R$ 15 de gorjeta.” Nem todos os clientes foram simpáticos à estratégia de João Batista, que não tem ponto fixo na cidade. “Teve uma senhora que não gostou. Pediu para desligar. Não queria barulho e ameaçou descer.”
Mineiro de Juiz de Fora, o representante comercial Luiz Fernando Penna, 54, curtiu ser “aplaudido”. “Achei superinformal. Ainda mais para quem é de fora e tem de encarar o trânsito tão tenso de São Paulo”, diz ele, que costuma vir à capital ao menos três vezes por ano.
Dos cerca de 33,8 mil táxis em circulação na capital, o Sindicato dos Taxistas Autônomos não sabe dizer quantos adotam uma estratégia “diferenciada” para atrair a clientela. Diz que o leque é vasto: de taxistas bilíngues a carros com revisteiro e frigobar, passando pelos luxuosos veículos blindados com tablets no banco de trás.
Aos 15 anos de idade, João Batista se separou dos 12 irmãos e dos pais, que viviam em São Sebastião, agreste de Alagoas, e viajou para São Paulo. Era a primeira vez que o rapaz entrava em um ônibus. A viagem foi longa, demorou cerca de 42 horas.
Aqui, começou como office-boy. Formou-se em ciências biológicas e trabalhou como corretor de imóveis. Casou-se, teve dois filhos, virou taxista e criou o passageiro VIP, que se cadastra no site e pode ganhar uma muda de pau-brasil ao acumular pontos por vez em que usa ou indica o Seu Táxi, a empresa de João Batista. Uma corrida de uma hora gera cerca de 11,7 kg de CO2, ou 1.170 pontos. Assim, 65.520 pontos (ou 56 horas de corrida) dão direito a uma muda de pau-brasil.
Desde 2007, ele jura que já distribuiu e plantou 224 pés, principalmente em praças de Itaquera e Guaianases, na zona leste paulistana. Pena que o ônibus que trouxe João Batista de Alagoas a São Paulo não tinha crédito de carbono. Pelo trajeto, faltaria pouco para ele chegar aqui com uma muda de pau-brasil a tiracolo.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/04/1267145-taxista-oferece-a-passageiros-salva-de-palmas-uisque-e-milhagem.shtml
Fonte:Folha Online