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Capital: cinco táxis, cinco vidas

Capital: cinco táxis, cinco vidas

Em menos de 24 horas, tomei cinco diferentes táxis em São Paulo, e como as viagens por lá são sempre demoradas, deu tempo de conhecer um pouco o jeito de cada motorista. Embora nascidos no mesmo país, moradores da mesma cidade e exercendo a mesma profissão, eles são muito diferentes. E é esta mistura que torna o povo especial.

O primeiro motorista veio do sertão pernambucano há mais 40 anos, com os pais, para tentar a vida na cidade grande. Foi engraxate quando menino, depois auxiliar num banco, deu aulas de artesanato e, quando achou que já conhecia a cidade, foi trabalhar como taxista, mas só há quatro anos conseguiu comprar seu carro. Estava feliz porque em abril voltará pela primeira vez à sua terra – de avião, com a mulher e as filhas.

Carlos, o segundo, falava sem parar, disse que não se importa com os congestionamentos gigantescos. “Quem mora em São Paulo tem que se acostumar com eles. Não adianta se irritar.” Santa sabedoria! Quando eu disse que morava em Florianópolis, ele deu um suspiro e comentou: “Nossa, que vidão. Já me disseram que lá a gente atravessa a cidade em 10 minutos”. Expliquei que não era bem assim. Acho que ele ficou decepcionado.

Chegou a vez de entrar no táxi de um jovem. Ainda bem que foi a corrida mais rápida, porque ele dirigia muito mal e não sabia se localizar. É taxista há quatro meses, desde que desistiu de ser jogador de futebol profissional. Passou por dois times da terceira divisão. Quase nunca recebia salário, e como estava apaixonado e queria casar, decidiu trabalhar com o táxi do pai. Noivou no Natal.

Domingo à noite chovia em São Paulo, e não tinha táxi na cidade, mesmo nas casas de shows. Depois de uma longa espera numa fila mais longa ainda, chega o meu carro. Um motorista muito mal-humorado já abriu a porta reclamando. Quando eu disse o meu destino – um hotel a poucas quadras dali -, ele ficou mais brabo ainda, pois iria faturar pouco. Ao chegarmos, dei uma nota de R$ 50 para descontar R$ 11,70. Ele queria trocado, e como eu não tinha, ouvi outros impropérios.

Mal entrei no último táxi e percebi que aquele senhor era diferente. No rádio, música clássica. Ele trabalhava de gravata, roupa alinhada, cabelo grisalho bem cuidado, unhas feitas. O carro, limpíssimo e cheiroso. Sentei e pedi para ir até o aeroporto. Falamos sobre aviões e viagens. Ele conhece quase todo o mundo, fala várias línguas e é apaixonado por música e arte. Aposentou-se há cinco anos e, há dois, perdeu a esposa, vítima de câncer. Como não tiveram filhos, ficou sozinho. Veio a depressão. Até que um taxista que sempre lhe servia sugeriu que ele comprasse um táxi também e trabalhasse pelo prazer de sair de casa e conversar com as pessoas. Foi o que ele fez. Trabalha em um local seguro, só faz corridas durante o dia e tem feito muitos novos amigos.

http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a4072517.xml&template=3916.dwt&edition=21558&section=213#3/13/2013/cinco_táxis,_cinco_vidas
Fonte:Diário Catarinense – Impresso