Rio: taxista oferece ‘spa’ sobre quatro rodas a passageiros
Todos os dias, das 17h à meia-noite, o carioca Jorge Acchiles de Almeida, de 61 anos, trabalha em meio a bebidas geladas, massagens de shiatsu, essência de rosas e música relaxante. Ele não é funcionário de spa ou de hotel cinco estrelas. Jorge é taxista. Há cinco anos, vem investindo no tratamento VIP aos passageiros sem cobrar nenhum centavo a mais por isso. Mas é preciso um golpe de sorte para conseguir usufruir do oásis urbano: como o motorista não pertence a cooperativa alguma, é fazer sinal e torcer para que seja a sua Zafira 2.0 a parar.
Formado em economia, seu Jorge, como é chamado pelos clientes, trabalhou 26 anos na Light até ser demitido em 2008. Durante o tempo na empresa, contraiu hérnia de disco por conta dos anos a fio sentado de mau jeito e do estresse. Foi quando começou a fisioterapia e se deparou com a cadeira massageadora de shiatsu (“Fui aos céus”). Assim que se viu sem emprego e comprou a autonomia do táxi, não titubeou: colocou a cadeira do nirvana no banco dos passageiros.
— Na vida, sempre digo que o importante é olhar, ver e enxergar. Eu enxerguei — observa seu Jorge em tom palestrante. — Quis tratar meus passageiros como sempre quis ser tratado dentro de um táxi. Afinal de contas, são eles que pagam o meu salário. Fiz uma pesquisa de mercado com os primeiros clientes para saber do que sentiam falta dentro de um táxi.
O “shiatsu móvel” dura 15 minutos e é acionado por um controle remoto ao alcance do passageiro. A experiência relaxante é acrescida de uma trilha sonora especial. O “CD de trabalho”, como seu Jorge chama, reúne clássicos da bossa nova em versão instrumental (“música com letra estressa mais o passageiro”), sempre em volume moderado. Quem entra no carro pode não se dar conta, mas os bancos de couro, seu Jorge faz questão de dizer, são semanalmente amaciados com xampu Monange azul (“é o segredo”). E o suave perfume de rosas é proveniente de duas barras de sabonete do Boticário, cuidadosamente dispostas no revisteiro.
A lista de mimos que o motorista oferece é extensa. Além da cadeira massageadora, quem entra na Zafira de seu Jorge dispõe de refrigerantes e água mineral gelados (as bebidas ficam dentro de um cooler); carregadores de celular e de laptop; capas de chuva descartáveis; balas e biscoitos; TV digital e brindes comprados na Saara, que o taxista oferece às crianças (“para elas saírem com um sorriso de orelha a orelha”).
— As pessoas ficam impressionadas, me agradecem mil vezes, mas sou uma exceção, quando deveria ser a regra. Adoraria dizer que copiei isso de algum lugar, mas seria mentira. Nunca vi alguém oferecer esse serviço. E eu juro: queria mais era que todo mundo me copiasse — diz, grandioso.
Clientes até de fora do Rio
Munido de dois celulares que não param de tocar, seu Jorge está acostumado a agendar corridas com meses de antecedência. Seus melhores clientes, ele diz, são de fora do Rio. Engravatados do Oiapoque ao Chuí ligam marcando para que o taxista esteja de prontidão no aeroporto e que fique a serviço deles por um dia inteiro, às vezes um final de semana.
— Ele é o melhor taxista que já vi — diz o engenheiro baiano Sérgio Lemos, que mora em Salvador e, no Rio, já chegou a passar 12 horas seguidas com seu Jorge, visitando obras na cidade. — A primeira vez que peguei o táxi dele fiquei surpreso. É um tratamento muito diferenciado.
Como numa sequência lógica de fatores, quem pega o táxi de seu Jorge pega também seu cartão. O taxista distribui, em média, 140 cartões por semana, ou quase 600 por mês:
— Mas prefiro atender poucas pessoas bem do que muitas de qualquer jeito. Dizem que eu deveria ter uma frota. Mas para que, se não posso trabalhar pelos outros?
http://extra.globo.com/noticias/rio/taxista-oferece-spa-sobre-quatro-rodas-passageiros-8109290.html
Fonte:Extra Online